quinta-feira, 9 de agosto de 2018

A pesca no Gharb Al - Andalus



Desde a Antiguidade que a pesca, a salga de peixe e o comercio dos seus derivados tiveram grande importância e desenvolvimento na Península Ibérica.
A pesca e o comercio de peixe constituíram significativo recurso natural durante a permanecia do Islão na Península conforme parece documentar milagre relatado nas "Cantigas de Santa Maria" de Afonso X - o Sábio .
O milagre refere a existência sobre as muralhas do castelo da cidade de Uhsunuba - a actual Cidade de Faro- de uma imagem em pedra da Virgem Maria á qual os cristãos seriam muito devotos. Os mouros decidiram atiram a imagem da Virgem para o mar e a partir desse momento o peixe começou a faltar na redes, como por milagre o peixe so voltou ás redes depois da imagem ter sido retirada do mar e posta no seu lugar original na muralha. Ainda hoje a figura da Virgem esta representada entre duas torres no escudo da cidade.
As actividades piscatórias são muito pouco divulgadas nas fontes árabes, apenas se valorizavam os recursos naturais terrestres tais como a extracção de minério ou bons recursos agrícolas sendo os recursos marinhos esquecidos.
Apenas constituíam excepção os recursos marinhos de valor superior ao do pescado tal como o ambar, o sal e o coral. No caso do sal, tantas vezes relatado por geógrafos e viajantes muçulmanos, foi mesmo criada legislação própria para a sua produção e comercio.





A pesca - Espécies e processos de captura 

A pesca podia ocorrer no mar tanto junto á costa como ao largo assim como em zonas de estuário diferenciando se as artes e técnicas empregues, A pesca no mar profundo e agitado obrigava a utilização de artes e barcos mais resistentes que aqueles usados para pescar em zonas menos fundas e de estuário ou rios e ribeiras.
as artes de pesca durante a permanecia muçulmanos não seriam muito diferentes das usados nos dias de hoje de carácter tradicional e incluía o uso de anzóis, chumbadas para pescar á linha com ou sem cana e pesos de rede . Eram também usados arpões para a pesca do atum assim como da baleia.
As artes de pesca conservam ainda hoje denominações muçulmana tais como enxavega ( ax-xabeqa) e xávega (xabaqa) que indica rede de arrasto para peixes pequenos.
Os chinchorros eram também utilizados na pesca mas como eram redes mais pequenas eram consideradas menos produtivas e nos rios utilizavam-se as tarrafas na pesca artesanal, a sua utilização estende se ate aos dias de hoje.
As espécies de peixes encontradas em contexto arqueológico são ja muito numerosas e as mais antigas foram observadas no castelo de Silves no primeiro nível de ocupação Muçulmana ( sec- VIII / IX) onde se identificou a presença de douradas (spauros auratus).
Em contexto atribuído aos sec X - XI foram encontrados em Santarém, em silos, vestígios de barbo, esturjão, pardete e carpa. Em Albufeira foram encontrados vestígios de raia e safio nos silos escavados na zona histórica.
Depois de salgados e seco o peixe era conservado para consumo ao longo do ano quando o mar não permitia pescar ou poderia ser vendido para as zonas mais interiores entrando assim no mercado comercial. os barcos constituíram estruturas fundamentais para a pesca quer marítima quer fluvial, todavia não se encontram nas fontes árabes muita informação acerca das embarcações utilizadas na pesca.





Conservação e comercio de peixe 

A conservação de peixe era fundamental se não fosse consumido rapidamente, servindo assim para o seu consumo a médio ou longo prazo e ate mesmo para a sua comercialização . A conservação só era possível depois de se retirar as vísceras, ser salgados e seco ao sol para que não se estragasse rentabilizando assim o trabalho do pescador e dos intermediários. No Algarve ate aos século passado era comum o peixe ser tradicionalmente conservado em salmoura, seco ou fumado, se a conserva fosse para poucos dias utilizava se azeite, limão ou vinagre, era o chamado peixe de escabeche.
O comercio de peixe encontrava se literalmente documentado entre a ilha de Saltés, Huelva, e Sevilha e entre Portugal e outros pontos da Península. A venda de peixe realizada por Muçulmanos, Cristãos e Judeus foi referida em carta de foral concedido por Afonso VII no ano de 1180.


O peixe na alimentação 

O peixe seria consumido de diversos modos e entre eles cozido, assado, frito e de escabeche. Segundo os dietistas Muçulmanos a melhor maneira de comer o peixe era sob a forma de  tafāyā e grelhado no caso dos peixes serem pequenos como a sardinha. Tal como a carne , o peixe deveria ser colocado nas brasas ou num espeto ou mesmo numa grelha. Outro método que se utilizava era o peixe numa telha e coberto com sal e posto nas brasas, este método é usado ainda em Portugal na zona do Ribatejo.
Muito embora se consumisse uma grande quantidade de peixe, é possível que o seu consumo fosse comum junto das populações com menores recursos económicos residentes próximo do mar ou de rios que obtinham assim de forma fácil este tipo de proteína.

Fonte - A pesca no sudoeste do Gharb Al-Andalus ( Gomes)










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