quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A oliveira e o azeite no Al Andaluz



A cultura da oliveira e a produção de azeite na península vem desde a proto-historia, mas no entanto foi no período Romano que o seu desenvolvimento foi mais acentuado.
A conserva de azeitonas e a produção de azeite constituíam a base da chamada dieta mediterrânica a par do pão e do vinho.
Embora a informação arqueológica acerca do mundo rural disponível durante a permanência Muçulmana  seja escassa verificou-se nos arqueo sítios investigados uma continuidade, até ao século XI, de ocupação de muitos assentamentos agrícolas desde o período Romano.
A reutilização dos sistemas hidráulicos existentes assim como a introdução e  divulgação, durante o período Muçulmano, de novos meios de captação e condução e armazenamento de agua para rega desenvolveu  novas técnicas agrícolas e um melhor aproveitamento dos solos potencialmente férteis quer de sequeiro (b àl) quer de regadio ( saqy).




Nesta época intensificou-se o cultivo da oliveira que apesar de ter nome Latino, o seu fruto (al-zaytûna) e o óleo dela extraído ( al-zayt) têm nomes de origem árabe.
Para o desenvolvimento da agricultura do Al- Andaluz em muito contribuíram os tratados agrícolas como o calendário de Cordoba de 961 assim como o livro da agricultura escrito no século XII pelo agrónomo de Sevilha Al - `Awwâm. Nesta ultima obra é referido a oliveira selvagem e a espécie cultivada a mais abundante e cujos frutos dariam azeite de melhor qualidade.
A variedade selvagem da oliveira é ainda hoje muito comum no sul de Portugal, sendo designada por zambujeiro que deriva da origem Muçulmana de " zenboudje ".




Segundo a obra de Ibn - Halsun o" Livro dos alimentos" do século XIII, existem duas variedades de azeitonas que devem ser consumidas durante a refeição embora em momentos distintos. As azeitonas pretas (al - azeytûn al - aswad ) devem ser consumidas antes das refeições pois "abrem o apetite e são de fácil digestão" enquanto que as azeitonas verdes "al - zeytûn ah - ahdar " devem ser consumidas durante a refeição pois fortificam o estômago. segundo o mesmo autor as azeitonas que eram  salgadas ( al - mutammar) não eram recomendadas para a saúde.




O azeite produzido no Al-Andaluz era considerado muito bom, e era exportado para o Magreb e para o Egipto. Eram produzidas três variedades de azeite com diferentes qualidades sendo o azeite virgem (zait  al-ma`) de qualidade superior. O azeite de qualidade média e o mais corrente ( zait al-badd) e o azeite de inferior qualidade ( zait al- matbuj).
O azeite estaria presente quer em contextos urbanos como rurais, desde os mais humildes ate aos mais requintados espaços, incluindo palácios, mesquitas e os complexos de banhos ( hamman ) dada a sua utilização na iluminação. Alem da iluminação o azeite era utilizado na culinária, dado ser raro o prato que não tivesse azeite na sua confecção, outra utilidade do azeite era nas conservas de hortaliças e verduras.
Na medicina o azeite era utilizado no tratamento de eczemas, cólicas e ajudava a vomitar no caso de ter ingerido algum tipo de veneno. A goma da azeitona era utilizada para sarar feridas e era empregue também na construção em taipa, permitindo uma melhor ligação entre os elementos construtivos.

Fonte : " O grande livro da oliveira e do azeite - Portugal oleica"
                 de Jorge Bohm
              " Oleicultura no mundo Muçulmano " - Rosa varela Gomes

Fotos : Google