segunda-feira, 31 de maio de 2010

Paderna na Crónica da Conquista do Algarve







Como o Mestre se lançou sobre Sylues em quamto seu rey Almafon era fora e como pelejou com ele e [lhe] tomou o lugar


Per esta gujsa que aveis ouvido (a)prouue e Deos de dar a vila de Taujra em poder (aos Christaos ) e d(e)spojs que a leixou (o Mestre) segura de todo o que lhe compria foy a Selir e tomou por força (e) entam foy çerquar Paderna (que he hum ) castelo forte (e) muy boom de gran[de] comarqua em deredor antre Albufeyra e a serrae estando sobre ele mamdou gente[s] ao teermo de Sylues que fosem tomar a Tore destombar (que dante(s) fora sua) e foram la e ouueramna outra vez e quando Almofão seu Rey deles que estaua em Silues soube como aquela(s) campanha(s) aly erom sayo a eles do lugar com a majs campanha (que pode) porque lhe diserom que estaua aly o Mestre com todo seu poder e o Mestre como soube que era fora alçouse logo de sobre Paderna e veyose lançar sobre Silues. Almofon jndo pera (a)Tore destombar achou novas que nao era (al)y o Mestre e que nao (estaua aly) majs gemte que aquela que tomara a Tore e a defendyon porem qjs la chegar e (loguo muy) apresa se tornou pera a vila e loguo se temeo do que era e o Mestre lamçoulhe hua çilada (que) lhe tnha ja tomado as portas e as gemtes repartidas por elas e elRey Almofon chamom da Zoya porque era lugar desembargado encomtrouse aly com ho Mestre que tinha a guarda dela e elRey Mouro vinha com todolos seus jumtos e aly se vyo o Mestre com gramde trabalho com eles e foi a peleja (com eles) em hum campo se fora junto com a vila omde hora esta hua jgrei(j)a que se chama Samta Maria do marteres e os Moros fizerom muyto por cobrar a porta e se meterom sob(re) a Tore da Zoya que he bem saida e marcos pera fora majs esto nao lhe(s) prestou nada porque (os) Christãos andauom em volta com eles e asy entrarom com eles pela porta (da vila) e aly foy a peleja tao gramde em guysa que mais Christãos morerom aly que en outro lugar que se no Algarue tomase e elRey Mouro andou pela vila em deredor e qujserase acolher pelo postiguo da treição a hum alcaçar em que ele moraua e achou o postiguo foy pera se acolher per otra porta da vila e achoua e emtão de desesperação deu [d]as esporas ao cavalo e fogio e pasando por hum pego afogouse aly e o acharom de(s)pojs morto e (ag)ora chamom aquele lugar o pego de Almofom; dos Mourros que ficarom se acolherom ao alcaçar e (o) trabalharom de defender [em]quamto podiom e o Mestre (n)ao os qujs combater que segurouos que vj[v]esem (a vila) se quyjesem e aproueytasem suas herdades e lhe conheçesem (aquele) senhorjo que conheçyão ao Rey Mourro e asy [o] fez aos outros lugares que tomou e não combatiom os alcaçares em que se os Mourros se recolhyon mas segurauaos a que vivesem na(s) terras por serem aquelas (a)proveitadas e de(s)pojs foi aly hua jgreja catedral e foy feyta [a] çidade então se tornou o Mestre a Paderna que ante(s) tivera çercada e tomou a vila e o castelo por força e não (se) preytejarão com eles matando os Mourros por dous cavalejros Frejres que (a)hy matarom esta vila de Paderna se mudou (n)aquele lugar que agora chamom Albufeyra po(rem) ainda a otra esta murada e corrigida com seu castelo e hua cisterna muy boa dentro .



Cronica da Conquista do Algarve

O Castelo de Paderne: Localização Geográfica


O castelo de Paderne é, actualmente, a melhor representação islâmica visível no concelho de Albufeira. Foi construído, na época de ocupação almóada, período em que se temia o avanço da Reconquista e, consequentemente, se verificava uma insegurança geral por parte dos governantes muçulmanos. Daí o desencadeamento de uma política de construção de uma rede de fortificações, não só nas áreas urbanas, como foi o caso dos castelos de Albufeira, Loulé, Silves, Faro mas, também, em áreas rurais como em Paderne, Salir, Alcoutim e ainda, como o castelo do Belinho.
O castelo de Paderne, a 100 m de altitude, edificado no topo de uma colina constituída por formações do Jurássico Superior, encontra-se assinalado na Carta Militar Portuguesa n.º 596 de 1951, com as seguintes coordenadas: X-194.1 e Y-21.3, marca bem a sua presença na paisagem. As encostas adjacentes à muralha do castelo apresentam inclinações de valor superior a 30%, correspondendo a um meandro fortemente demarcado relativamente à Ribeira de Quarteira. Situa-se numa espécie de península formada pela Ribeira de Quarteira e o Barrocal algarvio e entre duas importantes cidades: Loulé e Silves.
Encontra-se este imóvel numa Zona Especial de Protecção, Portaria n.º 978/99 publicada em DR (2ª série) com vista à sua salvaguarda e valorização.






A actual sede de freguesia encontra-se a cerca de 2 Km para Norte e a cidade de Albufeira, para Sul, dista aproximadamente 8 Km, em linha recta. Refira-se que a freguesia de Paderne apresenta alguns relevos vigorosos, localizando-se a cota mais elevada a 214 m de altitude, no lugar de Cabeça Aguda, a Nordeste, no limite do concelho. A Norte, os Montes do Arieiro e dos Lentiscais formam como que acidentes naturais, prolongando-se pelo Cerro do Espragal e Cabeça Aguda. Segue-se uma extensa zona relativamente baixa e aplanada, onde se localizam as bacias dos três cursos de água da freguesia: a Ribeira de Alte, a Ribeira do Sumidouro e a Ribeira do Algibre que depois de juntas formam a Ribeira de Quarteira.



Agradeço o texto e a imagem ao Amigo Pedro Oliveira Pinto, pela sua colaboração e ajuda

terça-feira, 18 de maio de 2010

Uma crónica tendenciosa




Frei Agostinho de Santa Maria escreveu no seu “Sanctuario Mariano” acerca do Castelo de Paderne:
Querem alguns que este castello seja obra e edificação dos mouros. Mas eu mais me inclino o mandaria edificar o Mestre da ordem de S. Thiago, Dom Paio Peres Corrêa, porque os mouros não fizeram cousa que merecesse nome”.

Ataíde Oliveira na sua Monografia de Paderne discorda e clarifica a sua posição em relação aos mouros:
Erradamente escreve o frade Agostiniano dos mouros, pois desconheceu a sua historia(…) fundaram em Silves escola de onde saíram sábios eminentes; distinguiram-se na guerra como claramente se conclue da historia do Crusado , na tomada do castello de Silves, no tempo de D.Sancho I, e não despresaram as sciencias, antes deram-lhes grande desenvolvimento.
Fr. Agostinho, como outros nossos chronistas, foi victima de sua má vontade contra os mouros, pelo ódio da raça e das crenças. Esta é a verdade. Se pois, o castello de Paderne se entregou aos christãos, quando ainda não era nascido Dom Paio, como o poderia elle ter fundado?”


Em 1189 após a tomada de Silves um cruzado relatou o seguinte:
Estes são os castellos de que os christãos se apoderaram depois da tomada de Silves : Carphanabal, Lagus, Alvôr, Porcimunt, Munchite,Muntagut, Caboiere, Mussiene, Paderne”.


Segundo Ataíde Oliveira o castelo tem fundação pré-romana, dos tempos proto-históricos, ou talvez pré-históricos.


Frei Agostinho de Santa Maria(ou Manuel Gomes Freire), era filho de António Pereira e Catarina Gomes é natural de Estremoz, onde nasceu a 28 de Agosto de 1642. Professou a Regra dos Agostinhos Descalços a 18 de Dezembro de 1664, tendo exercido na Ordem vários cargos.Compôs diversas obras e traduziu outras do latim, espanhol e italiano. A sua obra mais notável é o Santuário Mariano onde recolheu todas as tradições referentes ao culto de Nossa Senhora nos diversos templos nacionais e da diáspora.Faleceu em Lisboa a 2 de Abril de 1728

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Reconquista - do Condado até ao Gharb



A Reconquista


A reconquista de todo o território peninsular vai durar cerca de oito séculos, só ficando concluída em 1492 com a reconquista do reino muçulmano de Granada pelos Reis Católicos. Em Portugal, a reconquista terminou com a conquista definitiva de Silves pelas forças de D. Afonso III, em 1253.
Os reinos ibéricos puderam beneficiar do apoio de várias Ordens Militares, das quais se destaca a Ordem dos Templários, uma Ordem militar e religiosa instituída com o propósito da cristianização.
Portugal, viria a beneficiar das Cruzadas em trânsito para o Médio Oriente, tendo estas desempenhado um papel importantíssimo na tomada de algumas cidades portuguesas e subsequente expansão, bem como na fundação do próprio Reino.
Portugal e a sua existência como entidade politica independente no Oeste peninsular, está intimamente ligada ao processo da Reconquista. A Reconquista Cristã deu-se com a formação do condado Portucalense em 1096, quando D. Afonso VI separou este território da Galiza para o conceder ao conde D. Henrique de Borgonha, que viera para a Península para ajudar na luta contra os mouros. O condado foi concedido a D. Henrique a titulo de dote hereditário, pelo seu casamento com D. Teresa, filha de D. Afonso VI, quando D. Afonso VI separou este território da Galiza para o conceder ao conde D. Henrique de Borgonha, que viera para a Península para ajudar na luta contra os Mouros. O condado foi concedido a D. Henrique a título de dote hereditário, pelo seu casamento com D. Teresa, filha de D. Afonso VI. Pode-se mesmo afirmar que Portugal é um produto da reconquista cristã. A autonomia politica e o alargamento territorial do reino de Portugal, resultaram da luta contra os muçulmanos que dominavam a Península.





Rumo ao sul

Cronologia da conquista no Gharb

D. Sancho I (1185 – 1211): levou as suas ordes até Sevilha e conquistou a cidade de Silves. Os muçulmanos, com a ajuda dos Almôadas, contra-investiram e conseguira reconquistar aquela cidade algarvia.

D. Afonso II (1211-1223): Batalha de Navas de Tolosa – reforço dos guerreiros cristãos (ordens religiosas, forças guerreiras concelhias milícias nobres ibéricas e francas) e desagregação do império almôada. Fragmenta-se o território muçulmano num conjunto de reinos. No reinado de D. Afonso II acentua-se em Portugal a tendência cruzadística. Aproveitam a passagem dos cruzados pelas costas portuguesas (5ª cruzada) e conquistam a cidade de alcácer do Sal.

D. Sancho II (1223-1248): os reis de Leão e Castela empreendem uma série de conquistas, como Cáceres, Mérida, Badajoz e posteriormente, Córdova e Sevilha), cortando o apoio às forças muçulmanas do Alentejo, permitindo uma mais fácil conquista e anexação de praças e fortalezas nessas zonas. As ordens militares dos Hospitalários e Santiago tiveram papel preponderante nessas conquistas, assim como as mílicias feudais e concelhias.

D. Afonso III (1248-1279): deve-se a este rei a conquista definitiva do território com a conquista das cidades de Silves e Faro, bem como das zonas de Porches e Albufeira. Surgem alguns conflitos entre o rei de Portugal e o rei de Castela que também reinvindica va a posse do território algarvio. Só em 1267, foi firmado um tratado entre os dois reinos – Tratado de Badajoz – em que o rei de Castela abdicava de quaisquer direitos sobre os territórios algarvios a favor de D. Diniz (seu neto) e o rei de Portugal renunciava a qualquer pretensão sobre territórios na margem esquerda do Guadiana.

O rio Guadiana passa a ser linha divisóra entre os dois territórios e em 1268, D. Afonso III passou a intitular-se rei de Portugal e do Algarve. A disputa de territórios entre o dois reinos só terminou em 1297 com a realização do Tratado de Alcanices – o território português adquire os limites territoriais que, praticamente não foram alterados até aos dias de hoje.

sábado, 1 de maio de 2010

Uma outra Paderne, a do norte




Paderne



Orago: Divino Salvador

Paderne, a mais populosa freguesia do concelho, dista três quilómetros da Vila. É composta por 39 lugares.
Confronta com Remoães, Prado e rio Minho (que separa de Espanha), a norte, S. Paio, a nascente, Cousso e Cubalhão, a sul, e Alvaredo e Penso, a poente.

Em tempos em vasto território subordinado ao Mosteiro de S. Paio, a antiga freguesia de S. Salvador de Paderne esteve ligada ao prior de Santa Cruz de Coimbra, cabido do couto de Paderne, no extinto termo de Valadares. Foi reitoria da apresentação da casa dos Caldas e, por herança, da Burjoeira.

A igreja paroquial de Paderne pertenceu a um antigo mosteiro. A sua fundação, no século XII, é atribuída a D. Paterna, viúva do conde Hermenegildo, senhor de Tui, que nestas terras possuía, entre outras propriedades e aldeias, uma grande quinta. Aqui se recolheu com suas quatro filhas e outras nobres donzelas galegas que a quiseram acompanhar.

Era, de início um convento de freiras ao qual D. Afonso Henriques concedeu couto (em 1141). No século XIII, o cenóbio passou para os cónegos regrantes de Santo Agostinho. No reinado de D. Afonso III, o convento teve como prior D. João Pires, aliado e protegido do monarca e encarregado da construção da igreja, concluída e sagrada em 1264. Nos finais do século XVI, empobrecido pelos comentários, passou, por determinação de D. Sebastião, para os crúzios de Coimbra.

Bastante alterado no decorrer dos tempos, o templo, relevante monumento românico, conserva um aspecto imponente para o qual contribui o duplo portal. Apresenta, ao lado do pórtico principal de acesso à nave, outro portal mais amplo, de feição lombarda, com três arquivoltas e seis colunelos decorados com lavores notáveis. O portal principal revela esmerada decoração fitomórfica e geométrica. O interior é muito simples, de uma só nave, baixa, largo transepto e três capelas quadrangulares na cabeceira, com uma especialidade e organização bem adaptada rural do século XIII.

A povoação tomou inicialmente o nome de Paterna, porque ao convento se dava o nome de Mosteiro da Paterna (da fundadora), vindo posteriormente a transformar-se, por corrupção, no actual Paderne.

As famosas Termas do Peso, num dos lugares da freguesia, estão situadas numa zona com muita vegetação, com um parque encantador situado em local tranquilo e repousante.
As águas, pelas suas características terapêuticas, são indicadas para tratamento de diabetes, insuficiências hepáticas, obesidade e problemas de nutrição. Aqui são também exploradas as águas minerais Melgaço.

Dicionário Enciclopédico das Freguesias: Braga, Porto, Viana do Castelo; 1º volume, pág. 423 a 439; Coordenação de Isabel Silva; Matosinhos: MINHATERRA, 1996

Uma lenda



Em um dia de manhã da mais poética primavera tomavam as belas mouras o seu banho na ribeira que corre no sopé do monte do castelo, quando umas crianças que brincavam próximo das margens vieram a correr dizendo:
— Veja minha mãe. Que bonito é...!
— O quê, filho?
— As mouras a correr para o castelo.
Saiu a mãe do banho, cobriu o corpo nu com o albornoz do marido e correu a verificar o facto.
Então teve a compreensão nítida da sua desgraça.
Os cristãos serviam-se de uma estratégia para se aproximar do castelo. Tinham arrancado a distância grande porção de mato e encobertos com este tentavam entrar no forte castelo.
Deu imediatamente a voz de alarme e logo todas as suas companheiras, como as ninfas da ilha dos amores cantadas por Camões, correram nuas a entrar pela boca do subterrâneo que da ribeira comunicava com o interior do castelo, em cujas salas se esconderam.
Semelhantemente os mouros que trabalhavam em seus campos recolheram ao castelo e foram reunir-se aos seus camaradas que pelejavam contra os cristãos.
Foi rude e mortífero o combate. Ao primeiro encontro caíram feridos de morte dois freires espatários, cuja morte foi bastante sentida pelo Mestre D. Paio.
Depois de algum tempo foram expulsos do castelo os sarracenos, entrando os cristãos na sua posse.
Afirma a lenda que no subterrâneo do castelo ficaram encantados mouros e mouras, que ali defendem os seus tesouros até que a sua raça se resolva a vir desencantá-los.
Nunca saem dali a não ser à meia noite ou ao meio dia. Algumas pessoas dos arredores os têm visto àquelas horas.


Fonte: As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve, OLIVEIRA, Francisco Xavier d'Ataíde, Loulé, Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.143-146