sábado, 1 de maio de 2010

Uma lenda



Em um dia de manhã da mais poética primavera tomavam as belas mouras o seu banho na ribeira que corre no sopé do monte do castelo, quando umas crianças que brincavam próximo das margens vieram a correr dizendo:
— Veja minha mãe. Que bonito é...!
— O quê, filho?
— As mouras a correr para o castelo.
Saiu a mãe do banho, cobriu o corpo nu com o albornoz do marido e correu a verificar o facto.
Então teve a compreensão nítida da sua desgraça.
Os cristãos serviam-se de uma estratégia para se aproximar do castelo. Tinham arrancado a distância grande porção de mato e encobertos com este tentavam entrar no forte castelo.
Deu imediatamente a voz de alarme e logo todas as suas companheiras, como as ninfas da ilha dos amores cantadas por Camões, correram nuas a entrar pela boca do subterrâneo que da ribeira comunicava com o interior do castelo, em cujas salas se esconderam.
Semelhantemente os mouros que trabalhavam em seus campos recolheram ao castelo e foram reunir-se aos seus camaradas que pelejavam contra os cristãos.
Foi rude e mortífero o combate. Ao primeiro encontro caíram feridos de morte dois freires espatários, cuja morte foi bastante sentida pelo Mestre D. Paio.
Depois de algum tempo foram expulsos do castelo os sarracenos, entrando os cristãos na sua posse.
Afirma a lenda que no subterrâneo do castelo ficaram encantados mouros e mouras, que ali defendem os seus tesouros até que a sua raça se resolva a vir desencantá-los.
Nunca saem dali a não ser à meia noite ou ao meio dia. Algumas pessoas dos arredores os têm visto àquelas horas.


Fonte: As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve, OLIVEIRA, Francisco Xavier d'Ataíde, Loulé, Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.143-146

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