segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Arte Islâmica


A arte muçulmana encerra em si um conjunto de manifestações artísticas, correspondentes a diferentes graus de evolução da sua cultura, numa civilização que se expandiu por um vasto território, tendo sido o seu factor de unidade a religião. Desta feita, a arte islâmica em Portugal corresponde a um dado momento da evolução civilizacional muçulmana, interagindo com um povo, cuja cultura era totalmente distinta e, pricipalmente, atendamos, no sector religioso que comandava a vida de ambos os povos: os Árabes e os Portugueses. Este facto é deveras compreensível, até porque os Muçulmanos entraram no nosso território, com o objectivo de invadi-lo e usurpá-lo aos Visigodos (710-716). Apesar da conflitualidade, a arte foi, de certa maneira, bem aceite e facilmente assimilada pelos moçárabes, deixando os seus vestígios e influências. Como se esperava, a arquitectura (religiosa) islâmica, com a “Reconquista”, foi, em grande parte, cristianizada, destruída e profanada, num impulso vingador contra aqueles que o Islão tinha como infiéis.
O fenómeno cultural islâmico caracteriza-se pela sua assimilação, criação e difusão de determinadas formas artísticas. No campo decorativo, basta atendermos à lindíssima escrita árabe, cujos textos originais eram decalcados na íntegra ou por partes nas paredes, pintadas ou ornamentadas com relevos belíssimos. Tanto bastava para a decoração. Ou ainda com azulejos reproduzindo partes de textos ou com motivos geométricos de belíssimas cores .




Vaso de Tavira em ceramica Sec XI, exposto na Casa da Cultura Islamica de Silves


A vida muçulmana é regida por uma certa unidade, cujo factor primordial reside na Religião. No entanto, esta unidade vivencial não viria a fazer sentir-se na sua cultura artística eminentemente homogénea. A vasta área do domínio islâmico que, num ápice, partiu do vasto Oriente a arribou à Península Ibérica, cobrindo todo o Norte de África, foi propício, nas suas várias regiões, a distintas representações formais, de que a nossa Península é um perfeito exemplo. A cultura artística berbere, ao ser difundida pelos invasores, interagia com a tradição local, enriquecendo e alterando as suas próprias formulações de origem. A expansão islâmica noutras culturas tinha como consequência directa a produção da diversidade artística, consoante as suas regiões de implantação. Muito além da sua influência na arte dos povos dominados, outro factor originou a diversidade da cultura artística do Islam. Referimo-nos ao factor proveniente do fundo político-social lá desenvolvido, nas suas numerosas variedades étnicas donde saíram diferentes dinastias e assistiu-se à mudança, ao longo do tempo, dos centros de Cultura, segundo as chefias políticas que promoviam, consoante o seu desejo, certas regiões e a construção artística das mesmas.






Casa do Alentejo em Lisboa




No início, a Arábia não conheceu a arquitectura monumental. Quando os Muçulmanos ocuparam a Síria e o Iraque foram imbuídos pela influência bizantina das dinastias sassânidas nesses territórios, onde emanavam aspectos artísticos do mundo mediterrânico e asiático. A arte islâmica, genericamente, desde os seus primeiros impactos com a civilização, caracterizou-se pelo seu sincretismo, na mistura mais ou menos confusa de doutrinas diferentes e, gradualmente, definiu uma identidade própria, mas com as suas diversidades regionais. Apesar da diversidade formal desta arte, manteve dois aspectos imutáveis: o carácter áulico de uma arte ao serviço do imperium e testemunha do centro urbano onde assenta. A sua arquitectura revelou-se como um foco englobador de outras artes. O edifício, no seu todo, é um verdadeiro suporte da decoração.

Excerto de texto de João Silva de Sousa
Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Académico Correspondente da Academia Portuguesa da História


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