quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Castelo de Paderne, técnicas de construção e urbanismo


A construção


O castelo de Paderne foi, no Período Almóada, um pequeno hisn, ou seja, um pequeno povoado fortificado que era o centro de um território rural.
Data do ano de 1189, o primeiro testemunho escrito da sua existência, quando é enumerado entre os castelos islâmicos do Algarve, no texto de um cruzado anónimo que, a caminho da Terra Santa, participou na primeira conquista de Silves. Localiza-se, estrategicamente, no cimo de uma colina de 90 m de altitude que corresponde um meandro bem demarcado do percurso da ribeira de Quarteira. As encostas, NO, SO e SE, adjacentes à muralha, são íngremes, com inclinações bastante acentuadas. Tem um único recinto amuralhado de forma trapezoidal irregular que não ultrapassa um hectare. Possui um único acesso ao interior, defendido por uma torre albarrã de planta quadrangular que se une à muralha através de um adarve (palavra árabe al-darb que significa caminho, ruela. Corresponde a uma plataforma no topo das muralhas, destinada à circulação de pessoas e ao transporte de materiais e armas). A construção em taipa devido à sua versatilidade, qualidade, simplicidade de execução e abundância de matéria prima (terra ou solo), adaptou-se, graças ao aumento da percentagem de cal. A dinastia almóada foi exímia na construção de muralhas em taipa militar. A taipa é uma técnica de construção que se faz por módulos denominados taipais. Quando estava terminado o novo módulo de taipa, recuperava-se o taipal que era recolocado para se acrescentar um novo módulo à fiada que se pretende executar,assim o módulo pronto passava a ser diariamente regado e tapado com uma serapilheira. A secagem da taipa necessitava de ser lenta, afim de evitar a retracção e expansão dos materiais e, o consequente aparecimento de fissuras.

O urbanismo


As intervenções arqueológicas no Castelo de Paderne apontam uma ocupação humana, iniciada em meados do século XII, associada a um plano urbanístico pré-definido e implantado de raiz. O interior do castelo foi estruturado em bairros ou quarteirões com uma rua principal cortada por ruas laterais que indica uma existência de um poder político construtivo. As casas almóadas organizavam-se em torno de um pátio central, descoberto, em redor do qual se distribuíam os compartimentos: salão, cozinha, alcova .Foi executado um sistema de canalizações que, partindo das habitações, que percorria os arruamentos e terminava nas muralhas. Muitas vezes as lajes de cobertura das canalizações funcionavam como pavimento das ruas. A drenagem das águas residuais, fazia-se, para o exterior do castelo, pelas aberturas de escoamento, colocadas na muralha.
Existe uma cisterna que é contemporânea da construção do castelo, apresenta uma abertura em tijoleira quadrangular,com um canal pequeno, escavado no pavimento para recolher as águas.
Depois de conquistado o castelo, a nova população com conceitos e vivências distintas, procedeu à adaptação ou alteração inicial.



Agradeço a Pedro Oliveira Pinto pela musica do vídeo

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Assim era Paderna.....



"No termo da villa de albufeira (...) se vê o logar de Paderna a que outros erradamente chamam Paderne (...). Deste logar em distancia de menos de um quarto de légua se vê um cabeço, ou serra, de duro penhasco, a que atribuiem o nome do mesmo logar de Paderna; nome que parece que frisa com a sua dureza. É este monte bastantemente alto, e pela raiz delle corre uma ribeira; e por esta parte faz o cabeço um grande despenhadeiro, tão cortado e medonho, que faz horror; porque aquella parte, que é tudo diz de norte a nascente, será impossível haver pessoa, que tenha tanto valor, ou atrevimento, que se atreva a subir por elle (...). No mais alto daquelle referido cabeço, ou penhasco, se vê fundado um notavel castello, quadrado, que occupa todo o plaino do mesmo monte ou cabeço, que terá por cada um dos angulos quarenta e cinco até cinquenta passos. Era muito forte este castello em os tempos mais antigos por serem as suas paredes obradas de formigão, cousa tão forte, que parece excedia no material ás obras de pedra, e com torres á roda, pela parte de fora. Mas hoje se vê arruinado por algumas partes, mas não se pode ainda entrar nelle, senão pela sua porta principal, a qual fica para a parte do nascente, aberta entre duas torres, que defendiam a entrada. No meio deste castello se vê uma Ermida, dedicada a Nossa Senhora, á qual por causa(sem duvida do sitio em que está edificada) dão a denominação do Castello. É esta Ermida pequena: o corpo é fechado de madeira; mas a capella-mór coberta de abobada. Tem tres altares, e no altar- mór está collocada a sagrada imagem da Senhora, no meio de um nicho formado no retabulo, que é de obra antiga (...). A imagem da Senhora é de escultura de madeira, estofada, e com o Menino de Deus sobre o braço esquerdo. A sua estatura são cinco palmos (...). Antigamente esta Ermida da Senhora do Castello era a parochia de Paderne (...). A Senhora é de muita devoção , e muito visitada principalmente no dia de sua Assumpção, em 15 de Agosto que é o dia de seu Orago (...) "

Sanctuario Mariano- Frei Agostinho de Santa Maria 1716

Ataíde Oliveira - A Monografia de Paderne



Francisco Xavier de Ataíde Oliveira (Algoz, 1842 - Loulé, 1915) foi um arqueólogo português Licenciado em Teologia e Direito, dedicou-se à arqueologia e à história das povoações no Algarve. Tornou-se um dos maiores autores sobre a história e o folclore da região, tendo publicado diversos estudos. Fundou, igualmente, o jornal "O Algarvio" em Loulé. Da sua obra publicada em livro deixou-nos os Contos Infantis, Mouras Encantadas, Contos Tradicionais, Romanceiro do Algarve, Biografia de D. Francisco Gomes de Avelar e Memória do Bispado do Algarve e Monografias de Loulé, Algoz, Olhão, Alvor, Vila Real de Santo António, S. Bartolomeu de Messines, Paderne, Estombar, Porches, Luz de Tavira e Estói.

"Envidamos todos os esforços em informar os leitores ácerca da historia da freguesia de Paderne e nesse intuito não nos poupámos a nenhum trabalho de investigação"
Ataíde Oliveira -Monografia de Paderne

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur



Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur (1160- 1199 Marrakech), foi o terceiro califa da dinastia almóada.
Subiu ao trono do império em 1184, aquando da morte de seu pai, após a derrota na batalha de Santarém.
O seu reinado coincidiu com o período de máximo esplendor do império almóada na Península Ibérica.
Homem de grande cultura, escrevia em bom estilo árabe e foi o primeiro homem de estado muçulmano nascido na Europa.
No Gharb, corria o ano de 1189, D. Sancho I conquista o Castelo de Silves suscitando uma contra-ofensiva muçulmana que resultou não só na perda de Silves como de grande parte da região do Alentejo, até à margem esquerda do rio Tejo, permanecendo apenas Évora em poder dos cristãos.
Nos anos de 1190 e 1191, Ya'qub al-Mansur toma as cidades de Alcácer do Sal, Palmela, Almada, Torres Novas e Abrantes. Apenas Tomar resistiu e travou a sua invasão graças aos cavaleiros templários de Gualdim Pais.
O castelo de Paderne foi conquistado nesse ano de 1191 pelas forças muçulmanas de Al-Mansur permanecendo sob controle almóada durante 57 anos, até 1249.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Herança no Gharb



Após cinco séculos de presença e domínio muçulmano no Gharb apenas foram apagados os vestigios de caracter religioso, para que o cristianismo ocupasse o seu lugar de destaque.
Em períodos de maior intolerância e fanatismo religioso, como sucedeu nos séculos XV e XVI, em que foram perseguidos e expulsos, tentando assim fazer esquecer o seu precioso contributo.
Restam alguns vestígios religiosos e mesmo esses foram adaptados como capelas e, no caso de Alvor a uma sacristia na igreja matriz.
Os cinco séculos deixaram outros testemunhos, o nome das povoações - Alferce, Albufeira, Alcoutim, Alcantarilha, Aljezur.
As casas mantêm a influência árabe, especialmente nas açoteias que substituem os telhados, na forma cúbica dos edifícios, nas platibandas que decoram as fachadas e nas chaminés.
Muitas das técnicas agrícolas são ainda hoje bastante usuais, o maior exemplo são as noras e os açudes.
Também na gastronomia foram deixados muitos exemplos assim como em alguma da doçaria popular e conventual, as famosas migas alentejanas são herdeiras da harissa e o tradicional ensopado o sucessor da tharid ou tharida.

Se, num passe de mágica, fosse possível apagar, de Portugal actual, todos os vestígios do legado árabe, a nível étnico e cultural, a paisagem humana, física e civilizacional que contemplaríamos seria inteiramente diversa. Tornar-nos-íamos, possivelmente, louros e não morenos como habitualmente somos. Deixaríamos de falar o latim arabizado que é o português, e perderíamos mais de mil palavras do nosso léxico”.

Adalberto Alves em "Portugal – Ecos de um Passado Árabe"


"Vinguemos a derrota que os do Norte inflingiram aos Árabes nossos maiores. Expiemos o crime que cometemos expulsando da Península os Árabes que a civilizaram"

Fernando Pessoa in "Da Ibéria e do Iberismo"

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Nasib (نسيب) a Saudade no Gharb


O Nasib é uma canção que evoca a saudade.O sentimento de ausencia da mulher amada é evidenciado desde varias incursoes guerreiras, passando por errancia nomadicas, até aos restos de um desmantelado acampamento. A sua amada tinha partido, entretanto ele evoca-a lembrando a sua beleza assim como os dias felizes que haviam passado, pura saudade.
O Nasib foi transposto para a poesia lírica luso-árabe.


"Abandonaste-me.
Que te fará voltar um dia?
O tempo que estamos separados é a noite
Os momentos de estarmos juntos, uma lua cheia".

Poema de Al-Mu'tamid
(آل المعتمد)


Os cinco séculos de soberania Árabe no Gharb traduziram-se numa profunda influência no género lírico dos Portugueses .

sábado, 10 de abril de 2010

Muhammad ibn 'Abbad al-Mu'tamid, o Rei Poeta do Al-Andalus



Escrevo-te consciente de que estás longe de mim
e em meu coração, a angústia do sofrimento;
penas não escrevem, mas as minhas lágrimas
traçam uma carta de amor na página da bochecha;
se não for impedida a glória, eu visitaria apaixonado
e secretamente, como o orvalho visita as pétalas de rosa;
beijaria os teus lábios vermelhos sob o véu
abraçaria te desde o cinto ao colar.
Longe de mim, estás perto de mim!
se dos meus olhos estás ausente, não do meu coração.
Cumpre a promessa que fizemos, pois,
tu sabes, eu estou mantendo a minha parte.



Muhammad ibn 'Abbad al-Mu'tamid foi o último rei que governou a taifa de Sevilha no século XI. Foi também um dos poetas mais importantes do Al-Andalus.
Na sua corte reuniram-se alguns dos maiores estudiosos e homens das artes daquela época.
Nasceu em Beja (al-Bajah az-Zayt)no ano de 1040 e faleceu em Aghmatem em 1095, perto de Marráquexe.
O seu Mausoléu ainda hoje é local de peregrinação de poetas.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sebastião Philippes Martins Estácio da Veiga


Por muitos considerado como o pai da arqueologia no Algarve foi autor de várias obras e publicações.Nasceu em Tavira no ano de 1828 e faleceu em Lisboa em 1891.
Sobre a região de Paderne destaca-se "Antiguidades Monumentaes do Algarve" em quatro volumes que ainda hoje é referencia a quem deseja saber mais sobre o Algarve antigo.
No segundo volume e acerca de Paderne :


"Os subterrâneos que explorei nas ruas de Paderne estavam entulhados, e os entulhos manifestaram fragmentos de louças neolithicas, de loucas e vidros romanos e de louças árabes. Podem portanto, haver sido utilisados como celleiros na epoclia romana e na mahomelana, e terem sido inutilisados após a conquista portugueza".

"Ficando pois a meia légua distante do castello os subterrâneos de Paderne, não é verosimil que fossem originariamente obra d"essa gente essencialmente cautelosa, que só julgava seguro o que podia defender das ameias das suas muralhas".



Machado polido, com o gume formado por desengrossamenlo
decrescente nos dois lados mais largos e estreitando gradualmente
para a extremidade inferior

terça-feira, 6 de abril de 2010

Bantar era o nome...



Os primeiros registos mouros sobre Paderne datam do início dos reinos independentes das Taifas.
Na época das Taifas, período bastante positivo para as regiões do Al-Andalus como é o caso do Algarve, notou-se uma nítida evolução económica, social e cultural, Paderne era conhecida como Bantar.
Segundo a crónica " A viagem de Ibn Ammâr de São Bras a Silves" existe referência a Abû al-Fath Sa`dûn, um sábio que viveu em Sevilha :"Era originário da qarya (aldeia) de Bantar de Xanta Maria, uma das cidades do al-Gharb". É importante salientar que nesta altura Paderne não era classificada como hisn, o que indica que o seu castelo ainda não existia nessa altura (século XI), facto comprovado pela arqueologia que lhe atribui uma cronologia mais tardia, nomeadamente do período das dinastias magrebinas almorávida e almoáda.