sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Sufismo no Gharb




Com a derrota dos Almorávidas na batalha de Ourique dá-se o início de um novo período de fraccionamento do Andalus em reinos independentes, que ficou conhecido como os segundos Reinos de Taifas.
Durante este período no Gharb Al-Andalus constitui-se o Reino da Taifa de Silves. De inicio foi governado pela família dos Banu Al-Mallah, sendo depois dominado por aquele ficou na história como o grande Mestre do Sufismo no Gharb Al-Andalus, Abu Al-Qasim Ibn Qasi.
Ibn Qasi era natural de Silves e foi provavelmente um muladi, ou descendente de cristãos convertidos, de origem romana, dado que se pensa que o seu nome de família viria do romano Cassius.
Trabalhou como funcionário da alfândega em Silves e opta por uma vida de meditação e recolhimento, entregando metade dos seus bens aos pobres e refugiando-se numa Zauia ou Azóia onde inicia um caminho na busca de Deus, fundando uma confraria designada por Movimento Muridíno.
Essa Zauia deu origem ao famoso Ribat da Arrifana, em Aljezur, que constrói com a restante metade dos seus bens, e que se torna sede da sua Cavalaria Espiritual, incluindo uma mesquita, celas para os seus discípulos e cavalariças.
Ibn Qasi estabeleceu uma aliança com D. Afonso Henriques, que este simbolicamente sela oferecendo-lhe um cavalo, um escudo e uma lança, e que será a primeira estabelecida na Península entre Muçulmanos e Cristãos.
Esta aliança foi a prova de que Muçulmanos e Cristãos gnósticos se encontram irmanados pelos mesmos ideais de tolerância e fraternidade e em clara oposição aos radicais de uma e outra religião. Ibn Qasi foi assassinado em 1151 pois a sua posição foi considerada um desafio ao Islamismo ortodoxo e fanático profetizado por Ibn Tumart e Abdel-Mumen.
Como escreveu Adalberto Alves na sua obra “As Sandálias do Mestre”, “o fim trágico de Ibn Qasi, como mártir da causa dos Muridínos, não foi em vão. A sua rebeldia, face ao poder almóada, tal como a rebeldia de D. Afonso Henriques, face a Leão e Castela, foram dois pólos espirituais do ideal sofiocrático que daria lugar ao surgimento de Portugal”.
Apesar de tudo este movimento Muridine ainda manteve uma praça durante alguns anos, Tavira, governada por Ali Ibn Al-Wahibi, atacada pelos Almóadas dia e noite a partir de Cacela, a qual só foi conquistada quando o próprio Abdel Mumen comanda em 1167 uma força vinda de Marrocos.
O Sufismo é a via espiritual e mística do Islão, também chamada de Islão do coração ou Islão do amor, dado que os Sufis não se regem pela sua mente, mas pelos seus sentimentos.
É Islão da inteligência, da tolerância e da busca do conhecimento.
Para os Sufis toda a realidade comporta um aspecto exterior aparente e um aspecto interior escondido, ou seja gnóstico ou esotérico.





As origens do Sufismo remontam ao tempo do próprio profeta Muhammad (rassul Allah sallallâhu alayhi wa sallam), podendo advir dessa altura a própria designação Sufi do Árabe Ahl as-Suffa ou a gente do sofá, dado que os seguidores do Profeta se sentavam com ele num sofá na sua casa em Medina.
Outras possibilidades são ter origem na palavra Assafaa (pureza) ou as-Suf (a lã), dado que os primeiros sufis se vestiam com lã.
Este entendimento de que o Profeta foi o primeiro Sufi tem por base a forma esotérica e mística de como o Corão lhe foi revelado e o carácter de confraria existente entre ele e os seus mais próximos como sejam a sua filha Fátima e seu genro Ali Ibn Abu Talib, e incluindo a forma como a mensagem Corânica foi transmitida.
Cabe aqui uma referência à importância das mulheres no misticismo Sufi, que por via do Islão ganharam um estatuto igual ao dos homens, sendo-lhes reconhecido o direito à herança e ao divórcio, coisa que na Europa ainda tardaria uns séculos.
Os Sufis buscam incessantemente o conhecimento e a sabedoria através da meditação, de práticas iniciáticas e da transmissão do conhecimento no seio de confrarias dirigidas por um Mestre ou Shaykh.


Frederico Mendes Paula