A sul da serra algarvia, estendia-se um mundo que fascinava os conquistadores cristãos, tanto portugueses como do norte da Europa: uma densa rede de castelos, e cidades ricas e populosas. Em 1189, num golpe arriscado, D. Sancho I, em conjunto com uma esquadra de Cruzados, lança-se sobre a cidade mais emblemática da região: Silves. Mas após um breve domínio português sobre o Barlavento, o poderoso Império Almôada iniciou ma reacção fulminante.
Meio século depois, Paio Peres Correia, liderando os Cavaleiros da Ordem de Santiago desencadeou uma série de campanhas que derrubaram o reino muçulmano do Algarve.
Mas a defesa da fronteira havia estimulado aos Almôadas grandes progressos nas técnicas de fortificação. Os califas e os seus representantes na Hispânia promoveram intensas campanhas de construção de fortalezas nos pontos estratégicos. Os maiores investimentos foram para as grandes cidades, como se pode apreciar em Sevilha, Badajoz ou Silves que constituem ainda hoje verdadeiros epítomes da arte da fortificação. Mas não só. Mesmo povoações rurais pouco importantes foram dotadas de pequenos castelos para refúgio em caso de ataque cristão, chamados “albacares”. A divulgação das técnicas norte-africanas de construção em taipa, blocos de terra comprimida aumentou a velocidade de construção sem comprometer a solidez, como testemunham as torres sobreviventes de Paderne, Tavira ou Salir. Desta forma, acreditavam os califas, se impediria o despovoamento muçulmano do al-Andalus.
Os engenheiros almôadas incluíram em Paderne os elementos característicos da fortificação almôada, como a porta em cotovelo, que dificultava a entrada e a passagem de aríetes (antiga máquina de guerra constituída por um forte tronco de freixo ou árvore de madeira resistente, com uma testa de ferro ou de bronze a que se dava em geral a forma da cabeça de carneiro) e máquinas semelhantes. Esta defesa era particularmente eficaz, já que as portas eram habitualmente o ponto fraco de qualquer fortificação, como bem sabiam os cruzados que ficaram desiludidos com “portas de tal forma tortuosas e angulosas que eram mais fácil escalar os muros do que escalar por elas” como demonstra a ilustração.
Quando Paio Peres elegeu como objectivo dos próximos esforços o “castelo forte mui bom” de Paderne, no meio da actual província, o comendador de Alcácer seguiu de novo a “estratégia da aproximação indirecta”.
A escolha do castelo de Paderne justificava-se pela posição deste antigo ribât (mosteiro fortificado), erguido numa elevação que vigiava a estrada que unia Silves às cidades do Sotavento. Caso a fortaleza fosse ocupada, os cavaleiros de Santiago poderiam cortar as comunicações entre o vale do Arade e as cidades do Sotavento e lançar algaras em todas as direcções. Com efeito, o território defendido pelo castelo ia de Albufeira, no litoral, até à Serra. Relativamente a Estômbar ou Alvor, Paderne constituiria não só uma base melhor colocada, como muito mais defensável. Assim, provavelmente em Junho de 1239, os cavaleiros de Santiago partiram da nova base em direcção à vila fortificada de Paderne.
Para o assalto a Paderne, Paio Peres preferiu dirigir-se directamente à fortaleza, contornando Tavira e Loulé sem deixar qualquer força de contenção a vigiar os movimentos destas cidades. Apesar da tentativa de surpreender a guarnição, o ataque fracassou ingloriosamente. Era o primeiro sinal de que, no Sotavento, os espatários encontrariam resistência bem mais decidida e coordenada. De facto, sabendo que os santiaguistas de Paio Peres tinham de sair das bases para as cavalgadas, os muçulmanos tentaram a todo o custo o confronto campal, onde a superioridade numérica fosse decisiva. Tais iniciativas atribuíam-se à convicção dos mouros que deveriam derrotar o mestre de Santiago em campo aberto, quando era mais vulnerável.
A conquista de Tavira concedeu maior liberdade de movimentos às hostes da ordem de Santiago. A partir dessa cidade, foi enviada uma expedição contra Salir, castelo que foi tomado de assalto e ocupado por cristãos, em 1239 ou, menos provavelmente, em 1240. Este pequeno castelo tinha a importância de estar posicionado num ponto de passagem obrigatório de uma das poucas vias que atravessa longitudinalmente o Algarve. Permitia proteger as deslocações entre Tavira e o Oeste contra os mouros de Loulé e Faro. Sempre seguindo a “estratégia da aproximação indirecta”, Paio Peres começa a controlar um extenso território. A base deste controlo era o domínio das fortificações que lhe proporcionavam um meio de pressão sobre as cidades e a vigilância das vias de comunicação.
Os cavaleiros de Santiago dirigiram-se a Paderne, confiando que um cerco em regra teria mais sucesso que o assalto de surpresa anteriormente tentado. Mas a presença em Silves de Aben Mafom, rei do Algarve inspirou ao comendador de Alcácer um estratagema engenhoso. Conhecendo a tendência que os mouros do Algarve vinham manifestando para sair das muralhas quando convictos da superioridade numérica e animados pela perspectiva de uma batalha campal decisiva, D. Paio decidiu forjar uma manobra de diversão. Enviou uma coluna para tomar Estômbar, fazendo crer a todos que a comandava pessoalmente e que seguia nela a maior parte da hoste. A reacção do emir do Algarve foi a esperada: assim que foi informado que o comendador estava em Estômbar, sai de Silves para acorrer ao local, julgando que ia finalmente derrotar o homem que tanto fizera diminuir o reino. Contudo, Paio Peres Correia com a hoste principal levanta subitamente o cerco de Paderne, e desloca-se para Silves onde consegue controlar as muralhas e as portas da cidade. A ocupação de Silves não foi simples, visto que os mouros não se renderam facilmente. O emir, dando-se conta do logro em que caiu, regressa a Silve. Após tentativas baldadas de penetração pela couraça, pelas portas da cidade e pela porta da traição que dava acesso à Alcáçova, desiste do intento, abandona os defensores à sua sorte e foge para norte. A oposição durou até os sarracenos se convencerem da inutilidade da resistência e saberem que D. Paio lhes propunha um acordo aceitável.
Dias depois, o comendador de Alcácer ataca Paderne pela terceira vez e, finalmente, consegue tomar de assalto a tenaz fortaleza. Mas desta vez, Paio Peres mostrou-se menos generoso do que em Silves e fez passar a fio de espada os defensores, como represália pela morte de dois freires de Santiago. O Barlavento algarvio ficava definitivamente dominado pelos cristãos.
A imagem foi gentilmente cedida por Pedro Oliveira Pinto, do seu romance histórico “O Senhor de Paderne”
THE LORD OF PADERNE © Pedro Oliveira Pinto
All rights reserved
http://lordofpaderne.deviantart.com/
Meio século depois, Paio Peres Correia, liderando os Cavaleiros da Ordem de Santiago desencadeou uma série de campanhas que derrubaram o reino muçulmano do Algarve.
Mas a defesa da fronteira havia estimulado aos Almôadas grandes progressos nas técnicas de fortificação. Os califas e os seus representantes na Hispânia promoveram intensas campanhas de construção de fortalezas nos pontos estratégicos. Os maiores investimentos foram para as grandes cidades, como se pode apreciar em Sevilha, Badajoz ou Silves que constituem ainda hoje verdadeiros epítomes da arte da fortificação. Mas não só. Mesmo povoações rurais pouco importantes foram dotadas de pequenos castelos para refúgio em caso de ataque cristão, chamados “albacares”. A divulgação das técnicas norte-africanas de construção em taipa, blocos de terra comprimida aumentou a velocidade de construção sem comprometer a solidez, como testemunham as torres sobreviventes de Paderne, Tavira ou Salir. Desta forma, acreditavam os califas, se impediria o despovoamento muçulmano do al-Andalus.
Os engenheiros almôadas incluíram em Paderne os elementos característicos da fortificação almôada, como a porta em cotovelo, que dificultava a entrada e a passagem de aríetes (antiga máquina de guerra constituída por um forte tronco de freixo ou árvore de madeira resistente, com uma testa de ferro ou de bronze a que se dava em geral a forma da cabeça de carneiro) e máquinas semelhantes. Esta defesa era particularmente eficaz, já que as portas eram habitualmente o ponto fraco de qualquer fortificação, como bem sabiam os cruzados que ficaram desiludidos com “portas de tal forma tortuosas e angulosas que eram mais fácil escalar os muros do que escalar por elas” como demonstra a ilustração.
Quando Paio Peres elegeu como objectivo dos próximos esforços o “castelo forte mui bom” de Paderne, no meio da actual província, o comendador de Alcácer seguiu de novo a “estratégia da aproximação indirecta”.
A escolha do castelo de Paderne justificava-se pela posição deste antigo ribât (mosteiro fortificado), erguido numa elevação que vigiava a estrada que unia Silves às cidades do Sotavento. Caso a fortaleza fosse ocupada, os cavaleiros de Santiago poderiam cortar as comunicações entre o vale do Arade e as cidades do Sotavento e lançar algaras em todas as direcções. Com efeito, o território defendido pelo castelo ia de Albufeira, no litoral, até à Serra. Relativamente a Estômbar ou Alvor, Paderne constituiria não só uma base melhor colocada, como muito mais defensável. Assim, provavelmente em Junho de 1239, os cavaleiros de Santiago partiram da nova base em direcção à vila fortificada de Paderne.
Para o assalto a Paderne, Paio Peres preferiu dirigir-se directamente à fortaleza, contornando Tavira e Loulé sem deixar qualquer força de contenção a vigiar os movimentos destas cidades. Apesar da tentativa de surpreender a guarnição, o ataque fracassou ingloriosamente. Era o primeiro sinal de que, no Sotavento, os espatários encontrariam resistência bem mais decidida e coordenada. De facto, sabendo que os santiaguistas de Paio Peres tinham de sair das bases para as cavalgadas, os muçulmanos tentaram a todo o custo o confronto campal, onde a superioridade numérica fosse decisiva. Tais iniciativas atribuíam-se à convicção dos mouros que deveriam derrotar o mestre de Santiago em campo aberto, quando era mais vulnerável.
A conquista de Tavira concedeu maior liberdade de movimentos às hostes da ordem de Santiago. A partir dessa cidade, foi enviada uma expedição contra Salir, castelo que foi tomado de assalto e ocupado por cristãos, em 1239 ou, menos provavelmente, em 1240. Este pequeno castelo tinha a importância de estar posicionado num ponto de passagem obrigatório de uma das poucas vias que atravessa longitudinalmente o Algarve. Permitia proteger as deslocações entre Tavira e o Oeste contra os mouros de Loulé e Faro. Sempre seguindo a “estratégia da aproximação indirecta”, Paio Peres começa a controlar um extenso território. A base deste controlo era o domínio das fortificações que lhe proporcionavam um meio de pressão sobre as cidades e a vigilância das vias de comunicação.
Os cavaleiros de Santiago dirigiram-se a Paderne, confiando que um cerco em regra teria mais sucesso que o assalto de surpresa anteriormente tentado. Mas a presença em Silves de Aben Mafom, rei do Algarve inspirou ao comendador de Alcácer um estratagema engenhoso. Conhecendo a tendência que os mouros do Algarve vinham manifestando para sair das muralhas quando convictos da superioridade numérica e animados pela perspectiva de uma batalha campal decisiva, D. Paio decidiu forjar uma manobra de diversão. Enviou uma coluna para tomar Estômbar, fazendo crer a todos que a comandava pessoalmente e que seguia nela a maior parte da hoste. A reacção do emir do Algarve foi a esperada: assim que foi informado que o comendador estava em Estômbar, sai de Silves para acorrer ao local, julgando que ia finalmente derrotar o homem que tanto fizera diminuir o reino. Contudo, Paio Peres Correia com a hoste principal levanta subitamente o cerco de Paderne, e desloca-se para Silves onde consegue controlar as muralhas e as portas da cidade. A ocupação de Silves não foi simples, visto que os mouros não se renderam facilmente. O emir, dando-se conta do logro em que caiu, regressa a Silve. Após tentativas baldadas de penetração pela couraça, pelas portas da cidade e pela porta da traição que dava acesso à Alcáçova, desiste do intento, abandona os defensores à sua sorte e foge para norte. A oposição durou até os sarracenos se convencerem da inutilidade da resistência e saberem que D. Paio lhes propunha um acordo aceitável.
Dias depois, o comendador de Alcácer ataca Paderne pela terceira vez e, finalmente, consegue tomar de assalto a tenaz fortaleza. Mas desta vez, Paio Peres mostrou-se menos generoso do que em Silves e fez passar a fio de espada os defensores, como represália pela morte de dois freires de Santiago. O Barlavento algarvio ficava definitivamente dominado pelos cristãos.
A imagem foi gentilmente cedida por Pedro Oliveira Pinto, do seu romance histórico “O Senhor de Paderne”
THE LORD OF PADERNE © Pedro Oliveira Pinto
All rights reserved
http://lordofpaderne.deviantart.com/
Obrigado por tudo Pedro
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