sexta-feira, 16 de abril de 2010

Herança no Gharb



Após cinco séculos de presença e domínio muçulmano no Gharb apenas foram apagados os vestigios de caracter religioso, para que o cristianismo ocupasse o seu lugar de destaque.
Em períodos de maior intolerância e fanatismo religioso, como sucedeu nos séculos XV e XVI, em que foram perseguidos e expulsos, tentando assim fazer esquecer o seu precioso contributo.
Restam alguns vestígios religiosos e mesmo esses foram adaptados como capelas e, no caso de Alvor a uma sacristia na igreja matriz.
Os cinco séculos deixaram outros testemunhos, o nome das povoações - Alferce, Albufeira, Alcoutim, Alcantarilha, Aljezur.
As casas mantêm a influência árabe, especialmente nas açoteias que substituem os telhados, na forma cúbica dos edifícios, nas platibandas que decoram as fachadas e nas chaminés.
Muitas das técnicas agrícolas são ainda hoje bastante usuais, o maior exemplo são as noras e os açudes.
Também na gastronomia foram deixados muitos exemplos assim como em alguma da doçaria popular e conventual, as famosas migas alentejanas são herdeiras da harissa e o tradicional ensopado o sucessor da tharid ou tharida.

Se, num passe de mágica, fosse possível apagar, de Portugal actual, todos os vestígios do legado árabe, a nível étnico e cultural, a paisagem humana, física e civilizacional que contemplaríamos seria inteiramente diversa. Tornar-nos-íamos, possivelmente, louros e não morenos como habitualmente somos. Deixaríamos de falar o latim arabizado que é o português, e perderíamos mais de mil palavras do nosso léxico”.

Adalberto Alves em "Portugal – Ecos de um Passado Árabe"


"Vinguemos a derrota que os do Norte inflingiram aos Árabes nossos maiores. Expiemos o crime que cometemos expulsando da Península os Árabes que a civilizaram"

Fernando Pessoa in "Da Ibéria e do Iberismo"

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