O candil no percurso do seu desenvolvimento sofreu diversas influencias que contribuíram para a evolução de formas muito distintas, estando assim na origem da sua diversificação tipológica. Se por um lado temos de considerar as sua influencias pre- Islâmicas sobretudo de influencia Fenícia e Iraniana, por outro deveremos também considerar a incorporação das formas dos artefactos de iluminação dos territórios conquistados ao longo da marcha do Islão desde a Arábia ate á Península Ibérica, são disso exemplo os modelos Tardo-Romanos, Bizantinos e Norte Africanos. É este o contexto especifico do candil peninsular. Por sua vez o candil Português apresenta variantes locais que estão relacionadas sobretudo com a situação marcadamente periférica desse território, Al-Andalus, distanciando se em relação aos principais centros políticos e culturais tais como Córdoba e mais tarde Sevilha.
Tipologia e terminologia
A definição prende-se directamente com os elementos que constituem o artefacto em si. No caso dos candis distingue-se como elemento essencial o deposito, fechado ou aberto, que contem o combustível e o bico que possui a mecha.
Como elementos complementares surge o colo por onde se alimenta o deposito de combustível e a asa que tem uma função utilitária que permite a deslocação do candil .
O deposito é o elemento que sofreu mais alterações e cuja forma é a mais relevante na atribuição de tipologia.
Por sua vez a terminologia constitui um campo em que o consenso se impõe, não só em função do rigor cientifico mas sobretudo como uma exigência absoluta recorrente do processo de informatização regido pelas necessidades especificas da criação e utilização de uma base de dados consistente.
A questão de terminologia reflecte-se também na maneira como o património é abordado, pois não é por acaso que o ambiente hostil ao Islão leva a que por vezes seja ocultado com o rotulo de medieval ou baixo-medieval em vez de ser designado por Islâmico, que de facto é.
Candis em cerâmica
Época Califal (923- 1031)
Os séculos VIII e IX constituem um período formativo nas artes do Al-Andalus, em que os elementos tardo romanos e visigóticos são confrontados e moldados pelos cânones das artes islâmicas em pleno florescimento no Oriente Islâmico, dando assim origem a uma original simbiose no Al-Andalus que com o decorrer do tempo elaborou a sua própria linguagem artística e estilística plenamente afirmada no século X.
Em linhas gerais os candis de época Califa caracterizam se por um deposito fechado de forma lenticular, bico de canal largo e com paredes abauladas e acentuadamente levantado em relação á base . A junção do bico ao deposito na maior parte dos casos um espessamento que resulta da junção posterior dos dois elementos.
Época das Taifas (Século XI)
Em Portugal a fragmentação territorial do califado de Córdoba foi facilitada pela situação periférica e assim cedo surgiram novos centros de poder local que protagonizaram as aspirações de independência . A dinastia dos Aftacidas ou Banu Al-Aftas ( 1022-1091) com a capital em Badajoz dominou grande parte do Alentejo actual e estendia se ate Leiria. No Algarve instituíram se duas famílias reinantes nomeadamente os Banu Muzaiyin (1028-1063) em Silves ( Xilb) que rapidamente se transformou num relevantes centro de poder económico e artístico e os Banu Harun (1016-1052) em Faro ( Shantamarya de Harun) . É neste período que a diferenciação das produções cerâmicas provenientes agora de diferentes centros de produção adquiriu um cunho mais marcante com os candis a reproduzirem um deposito lenticular dos candis califais mas já com um bico facetado e não abauluado indicando claramente uma tendência plenamente firmada com os candis decorados a corda seca parcial.
Este tipo de candis são chamados de "bico de pato" cuja presença e constante nos levantamentos arqueológicos no Alentejo e Algarve e apresentam pastas bege, rosadas ou claras, homogéneas e bem depuradas.
Época dos Almoravidas (Século XI / XII)
O domínio politico do Almoravidas em relação ao território Português abrange o período compreendido entre 1091 e 1046, sendo a conquista de Lisboa em 1147 um resultado directo da desagregação e perda de controle territorial por parte dos Muçulmanos.
É um período de transição, em termos artísticos, em que correntemente são produzidos artefactos que continuam ainda as tradições anteriores embora com algumas alterações o que dificulta uma distinção clara.
Por outro lado tratando se de um período politicamente instável deu origem a uma degradação da economia que se reflectiu também na qualidade das produções da época geralmente menos cuidadas.
Morfologicamente estes candis apresentam uma forma diferenciada dos candis da epoca califal. Têm uma base circular plana, deposito circular achatado na parte superior com colo mais alto e boca extravasada com bordo boleado. o bico do canal apresenta-se mais alongado sem espessamento na junção do deposito com paredes facetadas e ponta triangular. a decoração com a técnica de corda seca parcial é disposta na parte superior do deposito junto do arranque do bico de canal e na parte superior do bico.
Época dos Almoadas (Século XII / XIII)
Em relação ao território Português esta época situa se entre 1154 e 1249 e constitui a derradeira presença Islâmica em território nacional com a reconquista.
A presença Almoada que tinha como origem um movimento religioso e que depressa se tornou num movimento com enorme poderio politico e militar introduziu profundas alterações na sociedade do Al-Andalus seja a nível politico ou mesmo religioso, o que inevitavelmente se reflectiu na cultura e também nas artes. É neste período que a influencia Berbere mais se intensificou.
Nos artefactos cerâmicos, ao nível da decoração, surgem novidades tais como o emprego de tinta preta e a escrita cursiva ( nashhi ). No âmbito dos candis opera-se uma verdadeira revolução que se traduz pela introdução de duas tipologias novas. Trata-se do candil de deposito aberto de forma trilobada e do candil de pé alto.
O candil de deposito aberto apresenta base plana e paredes rectas ligeiramente extrovertidas com bordo biselado e com uma asa dorsal de fita.
O candil de pé alto representa uma forma evolutiva do candil de deposito aberto, na medida em que foi acrescentado um pé alto, oco por dentro. A asa prolonga-se desde o deposito ate á base de onde sai o pé e é coberto em toda a superfície por vidrado monocromo.
Fonte : O arqueólogo Português, serie IV, 11/12, 1994-1994
Fotos - José Alberto Ribeiro
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