sábado, 18 de fevereiro de 2017

O arco Islamico em ferradura

Situado no interior do arco da vila, constitui uma das principais entradas em cotovelo na cidade de Faro e remonta ao século XI

O arco de ferradura é uma das muitas formas que este elemento construtivo pode apresentar. Tem uma característica específica: o arco continua depois das suas nascenças, descansando nas impostas, para além da linha que contem o centro da circunferência. Dos Visigodos passou à arte Hispano-Muçulmana e, dali passou à arte moçarabe e à arte mudejar. Os historiadores dividem se quanto á sua génese:

- Gomez-Moreno, considera o arco de ferradura de origem peninsular e anterior a invasão árabe.
- Auguste Choisy considera que o arco aparece pela necessidade construtiva de se fazer um recuo nas nascenças, para colocação da cofragem.
- Henry Martin conclui que a arte árabe importou da Pérsia as cúpulas, os arcos de ferradura e os arcos polilobados.
- Creswell considera que este arco foi ditado por primitivas estruturas de madeira em que uma cobertura de bambu foi curvada. Esta estrutura terá sido copiada nos templos cortados nas rochas, da Índia.

No período das invasões barbaras, a Península Ibérica albergou os visigodos e admitiu o seu domínio mas sujeitou-os à sua cultura, porquanto a estrutura nómada deste povo, não permitia que a tivessem. Foram um povo que se arrastou ao longo da Europa em convulsões sucessivas de guerras sangrentas, trazia consigo a tenda que o tapa da chuva e elementos de virilidade guerreira nos alforges do seu cavalo, feitos de metal, de pedras preciosas e de couro com uma mistura de simbologias que traduzem o seu contacto com outros povos, com outras religiões. no longo caminho de gerações, até chegar à Península.

Estela do período Visigótico com arco em ferradura encontrada em Mértola
Na segunda metade do séc.VI as tropas de Justiniano trouxeram para a península o prestígio da grandiosa arte bizantina e fizeram com que a poderosa civilização dos visigodos convertidos, atingisse o seu apogeu, na segunda metade do séc.VII.
Os visigodos contribuem com a sua arte decorativa, fruto do seu nomadismo. O arco de ferradura torna-se então uma constante desta arquitectura, como elemento construtivo já existente na Península.

Arco Emiral; Um legado Visigodo

Arco Emiral - Mesquita Catedral de Córdoba
 Quando Abd al Rahman I desembarca em Almuñecar (século VIII) e fundou o Emirado de Córdoba (756-929) os árabes já tinham começado a usar o arco em ferradura. O primeiro dos governantes Omíadas iria lançar um plano político que colocaria o Al Andalus no centro do próprio mundo islâmico, com a intenção lançou a primeira pedra  da Mesquita de Córdoba em 785. O emir construiu a mesquita em tempo surpreendente. Foi construída em apenas um ano, tal era certa a urgência para ganhar prestígio e consolidar o seu poder e, para isso forçou a contratação de artesãos locais que operavam perfeitamente o arco em ferradura Visigótico. Para isso recorreram a ruínas Romanas e Visigóticas nas redondezas, dai se compreende a semelhança entre os arcos Emirais e os Visigóticos.

O arco Califal - O triunfo Hispano-Muçulmano

Porta de San Esteban



O arco Hispano-Muçulmano atinge o seu apogeu no séc IX .  Embora tenha nascido no período Emiral a partir de um ponto de vista artístico pode-se falar sobre Arco Califado. A sua primeira manifestação aparece no arco superior da porta da fachada original da Mesquita  de Córdova na porta de San Estêban.

O apogeu do arco em ferradura; Lobulos e cruzes.

Mesquita de Cordova
                                 
Com o nascimento do Califado de Córdoba (929-1031) a arte muçulmana atingiu o seu apogeu. No magnífico palácio de Medina Azahara (936) assim como na Mesquita de Córdoba surgem as manifestações mais requintadas de arte Andaluza, incluindo arcos lobulados (originalmente da Mesopotâmia) e cruzando arcos com a utilização de estuques.


Fontes : Creswell, K.kC. Compêndio de Arquitectura Paleo Islâmica. Public. Universidad                                         de Sevilla, vol. l.

             Gomes-Moreno. M. Retazos. Ideas sobre Historia, Cultura y arte. Cons.Sup.                                  Invest.Cicntíficas .1970.

             Saldanha, F.; A.A. Silva. Arte Visigótica em Portugal. Tese Doutoramento.                                        Faculdade de Letras de Lisboa, 1962.

Fotos . José Alberto Ribeiro
            Obrigado João Ribeiro pela foto do arco de Faro

sábado, 11 de fevereiro de 2017

A decoração estampilhada da talha em período Almoada


O período Almoada representa já a fase final do domínio Islâmico no sudoeste peninsular e decorre entre os séculos XII e XIII. É uma época notável pois vive por um lado o período da "Reconquista Cristã", e por outro, o culto ideológico do poder do chefe e de Deus e isso pode se verificar na epigrafia das cerâmicas
É uma época de intolerância religiosa, as mesquitas foram destruídas ou convertidas em igrejas e muitos muçulmanos foram viver para fora de portas aparecendo assim as mourarias.


As Talhas

As talhas eram usadas principalmente como depósitos de agua ou como armazenamento de cereais e frutos secos. Eram compostas por um gargalo de boca larga e um bordo da aba grossa e um bojo globular que assenta numa base plana ou ligeiramente convexa.
A sua pasta mal cozida e porosa era branca ou avermelhada conforme a zona de onde era extraído o barro.


Nas talhas que ostentavam o tradicional estampilhado é de notar que apenas o colo e o ombro são revestidos e impermeabilizados pela tradicional pasta verde de oxido de cobre, pode se concluir então que eram utilizados para armazenar agua de beber. A parte inferior como não tinha qualquer tipo de revestimento ou cobertura vitrea  eram portanto naturalmente humedecidas conservando assim a agua sempre fresca. As talhas que não eram vidradas poderiam ser impermeabilizadas com pez ou gordura.


A decoração estampilhada era feita através de um molde ou matriz aplicado na peça com o barro ainda verde ( não cozido), deixando na peça motivos decorativos que aparecem tanto na horizontal como na vertical, segundo um registo de elementos sobrepostos. Os registos decorativos eram geralmente delimitados por frisos preenchidos por decoração rectilínea ou curvilínea incisa por  losangos impressos através de uma ferramenta rolante.
Em cada matriz da talha surgiam, alem do elemento principal, pequenos elementos diversos que preenchiam os espaços vazios num processo simétrico e equilibrado.



As talhas e os seus temas 

 
Tema Geométrico - Varias formas geométricas aparecem como elementos principais na cerâmica estampilhada, destacando-se as sequências entrelaçadas e concêntricas de losangos, estrelas de seis e oito pontas e algumas com formas circulares.

Tema Fitomorfico - Elementos muito estilizados e longe de se assemelharem a plantas naturais, Aparecem também elementos não identificados que surgem como temas centrais ou de preenchimento ale das tradicionais palmetas, flor de lotus ou rosetas.

Tema Epigrafico - A escrita árabe é um dos temas mais abundantes nas estampilhas da talha. Tanto em estilo cufico como em cursivo aparecem legendas bem epigrafadas de carácter religioso Al-Muk e outras de bênção e bem estar tais como al-yumme e baraka. Alem do carácter ornamental têm para um muçulmano um poder profilactico capaz de proteger não só o produto conservado como a a casa e seus donos.

Tema Zoomorfico - Existem vários exemplos com este tema e normalmente são representados através de aves, havendo alguns onde são apresentados também quadrúpedes aos pares ou mesmo leões.

Tema Antropomorfico - Normalmente o único elemento do corpo humano representado é a mão, este motivo é chamado por mão de Fátima ou Rhamsa (cinco). A religião   muçulmana na sua vertente popular converteu este símbolo e adaptou-o  á sua estrutura religiosa e social. A sua representação nas talhas demonstra mais uma vez a preocupação e o temor dos muçulmanos medievais em relação aos espíritos maléficos ou mau - olhado
sobre o alimento conservado.

Tema arquitectónico - É representado essencialmente por formas de arcos polilobulados
em ferradura, quase sempre delimitados ou preenchidos por motivos de carácter vegetal.

Adaptação de texto de Ricardo Tomás / Campo Arqueológico de Tavira
Fotos . Jose Alberto Ribeiro


sábado, 4 de fevereiro de 2017

Torre albarrã do Castelo de Paderne devolvida à sua monumentalidade

A torre albarrã do Castelo de Paderne vai ser restaurada, numa intervenção que será coordenada pelo arquitecto Manuel López Vicente, especialista em conservação de taipa militar, e que custará no total cerca de 100 mil euros.




As obras neste monumento, classificado como imóvel de interesse público, são promovidas pela Direcção Regional de Cultura do Algarve e contam com o apoio, enquanto mecenas, da Fundação Millenium BCP, e ainda da Câmara Municipal de Albufeira.
O custo dos trabalhos é de 87 mil euros mais IVA, o que dá os cerca de 100 mil euros já referidos. Mas esta é apenas uma pequena parte da intervenção total que o Castelo de Paderne, com os seus 900 anos de história, precisaria, como salientou Alexandra Gonçalves, directora regional de Cultura, na assinatura dos protocolos entre as três entidades. (...)



http://www.sulinformacao.pt/2016/08/torre-albarra-do-castelo-de-paderne-devolvida-a-sua-monumentalidade-com-obras-de-100-mil-euros/